quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Olhar Negro: Esmeralda Ribeiro

Naufragam fragmentos
de mim
sob o poente
mas,
vou me recompondo
com o Sol
nascente,

Tem
Pe
Da
Ços

mas,
diante da vítrea lâmina
do espelho,
vou
refazendo em mim
o que é belo

Naufragam fragmentos
de mim
na coca
mas, junto os cacos, reinvento
sinto o perfume
de um novo tempo,

Fragmentos
de mim
dilue-se na cachaça
mas,
pouco a pouco,
me refaço e me afasto
do danoso líquido
venenoso

Tem
Pe
Da
Ços

tem
empilhados nas prisões,
mas
vou determinando
meus passos para sair
dos porões

tem
fragmentos
no feminismo procurando
meu próprio olhar,
mas vou seguindo
com a certeza de sempre ser
mulher

Tem
Pe
Da
Ços

Mas
não desisto
vou
atravessando o meu oceano
vou
navegando
vou
buscando meu
olhar negro
perdido no azul do tempo
vou
vôo,[1]






ESMERALDA RIBEIRO nasceu em São Paulo/SP, em 1958. É Jornalista e faz parte do Quilombhoje. Atua no sentido de incentivar a participação da mulher negra na literatura.
Obra individual:  Malungos e Milongas. São Paulo: Ed. da Autora, 1988 (conto).



[1] RIBEIRO, Esmeralda. Olhar negro. In: QUILOMBHOJE. Cadernos Negros: os melhores poemas.

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